Imagine que cada dificuldade do seu dia (ou da sua vida) é uma pedra cheia de pontas e você precisa segurá-la em suas mãos. Agora, multiplique essa pedra pela quantidade de problemas que você tem: a conta de luz não paga, o boleto da escola que atrasou, o aluguel da casa, o filho que está doente, a dieta que não vai para frente... eu sei, haja pedras! E fica pior: a gente pensa que precisa dar conta de todas.
Não importa o quanto de dor você é capaz de suportar, sempre vai chegar o momento que vai ter mais pedras na sua mão do que você consegue segurar [fisicamente] e você vai precisar jogá-las em algum lugar ou em alguém. E é aqui que mora todo nosso grande caos social. Quando chega a hora da pedrada, sai de perto. Ninguém está livre! Amigos, família, a pessoa que você nunca viu, da rua. Qualquer um vira um alvo fácil para você e é quase tentador se libertar das pedras.
É tentador e irresistível. Eu já lancei, você já lançou e sua mãe já lançou em você – ela não resistiu, tinha muito mais do que ela deu conta de segurar. E quando você recebe as pedras – não importa quem lançou – sua primeira reação vai ser: “de onde veio isso?”. E é difícil [quase impossível] entender que nem sempre tem a ver com você, porque nosso ego é tão grande e tão vaidoso, que todo o mundo, todo o cosmos e todos os deuses giram em torno dele. E dói fundo.
Neste ano, eu fui atingida por tantas pedras, eu fui saco de pancada de tantas pessoas, canalizadora de decepções e frustrações que, para a minha sobrevivência mental, eu tive que desapegar um pouco do meu ego em alguns momentos. Não se engane, eu sou a rainha do ego e ele também dói, mas foi necessário. Ele não ia aguentar, e eu ia. Eu saberia distinguir o que era pedrada. E aguentei.
Meus defeitos são escancarados, e eu sei exatamente tudo o que eu não sou boa: em matemática, em história (sou péssima em decorar datas e nomes), em cozinhar, em ser amiga (eu sei que eu deixo bastante a desejar), em diversos esportes (apesar de eu adorar fazer, não sou boa, meu pace da corrida é ruim, eu nado devagar e sou baixinha para vôlei), péssima com noções musicais (ritmo, melodia), sou literal demais, sou chata com as minhas coisas e sou exigente (minha régua para algumas coisas da vida é muito alta, e pode ser difícil conviver comigo).
Pode escolher qualquer coisa acima (e mais umas centenas que eu não descrevi), que não vai doer. Eu nunca tentei ser boa em tudo, e isso é libertador. Não vou dedicar horas da minha vida para aprender a cozinhar (obrigada, iFood), nem para fazer cálculos complexos de cabeça (obrigada, iPhone) – e não ligo nenhum pouco para nada disso.
No meu caso, o meu ego vive nas minhas qualidades e isso é tão óbvio que ficou fácil saber onde me atingir. Eu bato no peito [sim] para falar que sou boa no meu trabalho, que sou esforçada, organizada, uma boa escritora, amo acordar cedo e ter disciplina, sou certa das minhas escolhas e gosto de quem eu sou. Não sou perfeita (porque isso não existe), mas sou dedicada a ser sempre melhor.
E para falar das pedras que me atingiram, eu elenquei o TOP 3 frases que eu ouvi esse ano. Se você estiver no ranking e estiver lendo isso, manda um direct. Mentira, manda nada. Leva para a terapia, que eu não estou pronta para esse papo.
TOP 3: “Com essa carinha de nova, as pessoas te respeitam?”
TOP 2: “Você nunca vai saber o que é se esforçar de verdade para conquistar algo.”
TOP 1: “Você não é perfeita, você sabe disso, né?”
Não teve contexto nenhum. Só jogaram mesmo, pelo esporte, e pelas pedras que estavam segurando, que não tinham nada a ver comigo (ou tinham). Eu estava tão descuidada, que fui atingida sem meu “sensor-aranha” apitar. Só chegou. Toma!
O TOP 1 é campeão disparado. Ele veio de três pessoas diferentes, uma delas que me conhece muito bem, e outras que pensam que me conhecem. Mas isso é irrelevante, porque esse tipo de frase só é dito com o propósito de machucar – simples assim. Eu não preciso que alguém me diga que eu não sou perfeita, eu sei disso, todos sabemos que não somos.
“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.” – Fernando Pessoa.
A perfeição não é só impossível de alcançar na sua visão singular, ela é impossível na visão de um mundo muito mais complexo do que a bolha que vivemos. O que, às vezes, parece perfeito para mim, ao mesmo tempo, é imperfeito para o outro. Somos constantemente provocados sob perspectivas de mundo diferentes, e tudo é relevante. O meu mundo não é o seu mundo, minhas expectativas da vida são diferentes das suas, minhas ambições na minha profissão são outras e meus medos são outros.
Neste ano, eu resolvi me expor mais, usar as características que eu acho que são minhas principais qualidades (mescladas com minhas neuras e defeitos) para escrever e me aproximar das pessoas que estão dispostas a ler meus textos. Eu resolvi explorar e evoluir. E, aparentemente, eu falhei, e isso me magoou muito.
Falhei porque as pessoas não estão lendo o que eu escrevo (só assim para pensarem que eu me acho perfeita), elas estão lendo o que querem, em um contexto e em um tom que elas aplicam, baseado no momento delas.
Falhei porque eu consolidar meu ego nas minhas qualidades, aparentemente, machuca indiretamente algumas pessoas, e isso é o oposto do que eu queria e do que eu quero.
Falhei porque eu me deixei ser atingida por um saco de 100 kg de pedra e doeu fundo. Elas queriam que doesse. Elas queriam que eu sentisse a dor delas, e eu deixei.
A minha maior falha foi deixar doer tanto.
Mas eu me recuperei e escrevi esse texto, como parte do meu processo de esclarecimento e evolução. Eu li as entrelinhas e lembrei da quantidade de pedras que essas pessoas estão segurando e entendi que não tem a ver comigo (ou tem). O ego ainda dói, mas eu fiz as pazes com ele para continuarmos firmes e fortes, e prontos para quando formos atingidos juntos, de novo.
Eu sou insuportavelmente forte emocionalmente e eu amo isso em mim.
E, depois de muita conversa comigo mesma, decidi que vou, sim, continuar me impondo e expondo meus pensamentos (errados ou certos aos olhos do outro). Eu vou, sim, bater no peito e confiar no meu trabalho e na minha trajetória. De novo, se eu tiver que dizer que sou menos do que eu sou para alguém gostar de mim, eu que não quero essa pessoa na minha vida.
Eu vou, sim, ser a minha maior fã, ter amor por mim mesma e cuidar do meu ego.
Anteontem, mil coisas me machucavam, ontem, quinhentas, hoje, duzentas, e continuaremos ricocheteando o que chegar, que nos fará cada dia mais fortes (eu e meu ego).
Mas antes de encerrar, eu tenho uma coisa para pedir: pense muito bem antes de lançar suas pedras em alguém. Em mim, dói menos (na base de muita meditação), mas imagina se bater em quem já está mal, com suas próprias mãos sangrando fundo das suas próprias pedras. Se isso acontecer, o caos pode ser muito maior do que um texto de mil caracteres.
Seja gentil e faça terapia! Ninguém é seu saco de pancadas. E você não é saco de pancadas de ninguém.
Até mais, meus curiosos.
Parabéns, filha, você deve continuar a fazer o que gosta e o que sabe fazer muito bem, que é escrever!
Sou sua fã!
E saiba que tem sempre alguém que fica esperando seus posts e que suas palavras podem fazer o nosso dia melhor!
PS. As pessoas, às vezes, falam sem pensar, não devemos dar muita importância