Assim como todo mundo (ou quase) da minha geração, eu aprendi sobre amor romântico assistindo a filmes da Disney e Sessão da Tarde. E como você provavelmente sabe, nesses filmes, as mulheres costumam ser românticas, e estão em busca de alguém que as entenda e as ame incondicionamente. E os homens são - ou se transformam - em verdadeiros príncipes para conquistarem a mulher que amam, declarando seu amor com chocolates, flores do campo e cafés da manhã dignos de uma princesa.
É fato que muitas coisas já mudaram no cinema (ainda bem), mas ainda vejo muita dificuldade dos filmes, séries, livros e outras produções falarem sobre o que realmente é importante para um relacionamento saudável. Se você, leitor, já conversou comigo uma vez sobre amor, sabe que eu digo que ele não sustenta nada, e a minha teoria é que há três coisas essenciais para uma vida em casal (exatamente nessa ordem): 1 - RESPEITO; 2 - ADMIRAÇÃO; 3 - AMOR/PAIXÃO. Sim, amor é o último na minha lista, porque esse sentimento se transforma e ele não se sustenta se o pilar essencial não existir.
Então, hoje, eu quero contar para vocês a minha grande história de amor. Ela não é romântica, tampouco teatral, mas ela é real, apaixonante e verdadeira. Para isso, vamos voltar ao começo, porque um dia eu também quis viver uma história de Hollywood.
Foi rápido e sorrateiro, mas quando eu percebi, Hollywood já tinha me convencido de que eu teria o meu príncipe, um dia. Afinal, se a Drew Barrymore, a Julia Roberts, a Anne Hathaway e tantas outras conseguem seu príncipe, por que comigo seria diferente? Eu não aceitaria nada menos que flores do campo. Estava decidido.
Mas é importante dizer que relacionamento nunca foi um pilar essencial na minha vida, eu sempre me dediquei aos estudos e trabalho, e para alguém entrar no meu mundo, "ia ter que rebolar", como diria nossa musa Sandy.
No auge dos meus 20 anos e com algumas boas histórias (e outras nem tão boas) para contar sobre relacionamentos, eu estava certa que príncipes não existiam, e naquele momento eu só queria ficar sozinha (afinal, eu tinha só 20 anos). O meu trabalho ia muito bem, eu estava adorando a faculdade e as festas - que vinham no combo da vida agitada dessa fase da vida. Tudo ia muito bem, até que...
Eu conheci alguém que era o oposto de um príncipe encantado, e que tinha suas próprias expectativas sobre relacionamento. Ele definitivamente não me traria flores do campo e, para preparar café da manhã, ele teria que acordar mais cedo do que eu – o que era e continua sendo impossível. Ele não era para mim. E ele também sabia que eu não era para ele.
Dois babacas. Porque quanto mais a gente tentava se separar, mais próximos ficávamos (fisicamente e emocionalmente). Eu sentia tanta falta dele que parecia quase um vício. Mas não pelos motivos que você provavelmente pensa, o que aconteceu é que ele me provocava em todos os sentidos, e eu a ele. Era insuportável e irresistível, ao mesmo tempo.
Brigamos, separamos, voltamos, aprendemos, mudamos, melhoramos, construimos. Estabeleci meus limites, e ele os dele (nem tudo precisa valer, nem tudo é permitido) e isso ficou explícito. E foi assim que fomos nos ajustando e cuidando do nosso amor à nossa forma.
E aí fomos se descobrindo cada vez mais, reajustando, reorganizando e reaprendendo. Entendemos que somaríamos na vida do outro, porque queríamos uma parceria. Morríamos de medo de nos sentirmos sufocados, e garantimos que isso não aconteceria.
Eu mantive meus valores e o que é importante na minha vida, e com o que aprendi com ele (e aprendo todos os dias) me tornei melhor. Mais confiante, porque ele me joga lá pra cima; mais amada, porque não há um dia que ele não diga o quanto me ama; mais bonita, porque ele fala que sou linda até se eu resolver passar coco na cara; mais eu, porque ele diz que eu não preciso dar satisfação de nada pra ninguém. Hoje, ele me provoca para eu ser a minha melhor versão.
E eu faço tudo isso por ele também.
De fato, ele não é um príncipe encantado, ele nunca vai se atentar a uma data de namoro, vai esquecer de tirar o lixo e fugir da louça. Mas se ele souber que estou com enxaqueca, vai chegar com mil remédios, 5 barras de chocolate, vai me dar banho e me colocar para deitar. Ele é desses, ué. E tá tudo bem!
Nunca vamos concordar sobre tudo. Mas concordamos sobre o que realmente importa, sobre educação, casa, sonhos, ambições. Somos perfeitamente imperfeitos um para o outro.
E quanto mais o tempo passa, mais percebemos que nossas diferenças, assim como nossas similaridades, nos aproximam. Nós somos bons separados, mas somos FODAS juntos, porque o que ele não tem, eu tenho, e o que eu não tenho, ele tem. E eu dou um pouquinho para ele, e ele um pouquinho para mim.
E não é que eu não viva sem ele (nunca caia nessa cilada), mas tem sido tão bom há tanto tempo – e quando eu digo "bom", eu quero dizer: difícil, provocante, intenso e contagiante – que ficar sem ele simplesmente parece a pior escolha. Quando eu estou com ele, as coisas têm uma cor diferente, têm outra graça.
Nós falamos de assuntos que ninguém mais quer falar, discutimos para saber quem tem mais conhecimento sobre história (ele), línguas e idiomas (eu), conhecimentos gerais inúteis (ele), física (acho que eu, mas ele vai ficar irritado). A gente briga por assuntos assim, aleatórios, mas quando se trata do nosso relacionamento e da nossa vida, somos quase uma "paz". E qual o segredo? Não tem!
A gente simplesmente coloca o respeito pelo outro lá no topo, e depois a vontade de ver o outro feliz sempre.
Amor de verdade não é o de Hollywood. É o amor desapegado, leve e livre. É o amor que é movido por ver o outro bem, mesmo quando estamos do outro lado do mundo – e olha que essa já é a terceira vez que isso acontece.
Quando estamos longe, não ficamos perguntando com quem o outro tá, porque essa simplesmente não é uma prioridade. A minha é ver ele feliz (comigo, de preferência), e a dele, a de me ver feliz (com ele, com certeza).
E seguimos há mais de dez anos fazendo sempre o possível para ver o outro feliz.
Texto muito bacana! Com riqueza de detalhes e sentimentos envolvidos. Meus parabéns pela dedicação, Aline! 🤗👏📝
Faz a gente refletir muitas coisas. Identifiquei vários itens a serem conversados e minha relação. Gratidão
❤️