Dizem que eu sorrio com os olhos. Tenho riso solto, leve e espontâneo, e quando eu vejo graça no bobo, no óbvio, nas intempéries da vida, todos os músculos do meu rosto se movimentam, e eu não poupo nenhum deles na hora de rir. No auge dos meus trinta anos, tenho um bigode chinês de presença (que eu adoro, por acaso – aos amantes de botox). Ele é um registro importante da minha alegria em viver.
Essa alegria me acompanha desde sempre, porque eu tive todos os privilégios que alguém pode ter. Nasci em um lar cheio de amor, com estrutura, cobertor quentinho e comida boa – se eu me concentrar e fechar os olhos, lembro dos dias que sentávamos à mesa na hora do jantar e eu pedia para repetir o feijão delicioso da minha mãe. Que sorte a minha!
Nunca fomos ricos, mas eu nunca soube o que é passar necessidade. Eu nunca soube o que é querer comer algo e não poder comprar ou ter que colocar dinheiro em casa. Eu tive mesa farta, viagens aos finais de semana e pai e mãe sempre presentes. Novamente, que sorte a minha! Aliás, que pai e que mãe!
Eu gosto de dizer que eu sou uma misturinha boa dos meus pais. Eu sou sensata, educada e acadêmica, como a minha mãe, mas também tenho essa alegria em tudo o que eu faço, que é uma marca registrada do meu pai. Ele ri de [quase] tudo, inclusive da minha mãe, às vezes, mesmo quando não deveria. Sou assim também, quando eu percebo, só eu estou rindo - eu adoro isso na gente. A gente simplesmente ri. E pronto.
Diferentemente de mim, meu pai não teve uma vida tão "cor de rosa" e aconteceu tudo e mais um pouco com ele, só que isso eu vou contar no meu livro, com todos os detalhes, porque é uma história que vale muito a pena. E mesmo com tudo pendendo para dar errado, ele deu muito certo.
Meu pai trabalhava umas 16h por dia, incluindo os finais de semana, mas quando ele estava com a gente, ele estava DE VERDADE. Jogávamos bola, nadávamos, empinávamos pipa, conversávamos até tarde na lareira da chácara e ele sempre fala[va] alguma bobeira sem sentido para rirmos. Às vezes, tudo em um único dia, porque ele tinha que pegar a estrada de madrugada para voltar ao trabalho.
E ainda tinha tempo de nos mimar um pouco.
- Pai, pode fazer um balanço com flores naquela árvore, igual ao disco da Eliana?
- Claro, filha.
No outro dia, já tínhamos cordas, pedaço cortado de madeira e flores do nosso jardim para pendurar na balança. E, de verdade, quanto custou? Uns dez reais e algumas horas de dedicação – que, convenhamos, é o mais difícil.
A minha mãe, em contrapartida, é mais fechada do que o meu pai. Ela costuma ser mais séria e a "voz da razão". Mas entenda, ela se casou com 17 anos, teve filho aos 20 e, com 28, já tinha três filhos (eu sou a caçula). Contas para pagar, marido para cuidar (na época dela, era o que se esperava), comida para fazer e muito trabalho dentro e fora de casa. Eu não sei como ela deu conta, mas deu. E deu pra caramba!
Ela instituiu valores, priorizou ensino de qualidade em escolas particulares (mesmo o meu pai sendo contra) e exigiu que respeitássemos todos à nossa volta. Enquanto o meu pai saía, ela cuidava de absolutamente tudo, toda a estrutura familiar que ele sempre sonhou em ter, todo lar aconchegante e cheio de amor. Ela foi a rede de apoio essencial para os pratos não caírem.
O meu pai é a construção da casa e a minha mãe é a fundação.
Eu aprendi muito com eles, em cada fala, cada valor e cada ação. Claro que depois, eu busquei mais caminhos, explorei mais ideias, criei minhas próprias crenças, mas a base de amor, respeito e educação foram essenciais para eu ser quem eu sou. Não existiria uma Aline de riso solto se eles não tivessem me dado tantos motivos para sorrir.
Naquela época, eu nem me dava conta de todos os meus privilégios, e parte de mim achava que todo mundo tinha o que eu tinha. Eu não fazia ideia do quanto tudo aquilo que eu vivia me lançaria para um mundo diferente, um mundo um pouco mais fácil.
Eu tenho problemas, vários deles, aliás. Mas eu aprendi a priorizar o amor e respeito desse jeito aí, e colocar o resto das coisas em segundo plano. Aprendi com os meus pais o poder de ser presente na vida de alguém, da sorte que é a gente ter quem se preocupe se chegamos bem em casa, se nossa saúde está em dia e se estamos felizes.
Todos nós merecemos ter um porto seguro, amar, ser amado, sorrir e rir. E também podemos ser o porto seguro de alguém, fazendo a vida mais leve.
Que sorte a minha ter tido sempre um porto seguro de responsa e ter tido sempre tantos motivos pra sorrir.
Que sorte ter tido um lar com amor e cobertor quentinho.
Até mais, querido e querida leitor e leitora.
Que legal rudo isso! Vi sua família um pouquinho. por sermos vizinhos por algum tempo, e nesse tempo eu brincar mais com seu irmao, pela idade que tínhamos que era mais próxima. E realmente sua família sempre foi muito bacana! Parabéns por reconhecer tão claramente isso hoje!
Que texto lindo, filha! Me emocionei muito com elw.
Que bom que você considera que teve uma infancia feliz e que guarda boas recordações dessa época.
Parabéns pela pessoa talentosa que você se tornou !
Te amo!🤩❤️
Sempre com esse sorriso lindo.
Parabéns pelo texto.
Que fofo! Importante considerar nossa base sempre. Parabéns pelo texto.
Parabéns, Aline lindo texto